Apesar de nossa relutância em dizer ao outro quem somos, há em cada um de nós um profundo desejo de ser compreendido. Está claro que todos queremos ardentemente ser amados; mas quando não somos compreendidos por aqueles cujo amor desejamos e necessitamos, torna-se difícil e desconfortável qualquer tipo de comunicação profunda. Isso não nos engrandece nem nos estimula. Torna-se evidente que ninguém pode nos amar de maneira efetiva sem nos compreender.
Se ninguém me compreende, nem me aceita como sou, vou me sentir alienado, e mesmo em meio a muitas pessoas, vou carregar um sentimento de isolamento e solidão.
Há muitas coisas dentro de nós que gostaríamos de compartilhar. Todos nós temos nosso passado secreto, nossas vergonhas ocultas, nossos sonhos desfeitos, nossas esperanças jamais reveladas. Diante da necessidade e do desejo de compartilhar esses segredos e de ser compreendidos, cada um deve avaliar seu medo e o risco que esta correndo. Quaisquer que sejam meus segredos, parecem ser minha parte mais profunda e única, mais do que qualquer outra coisa.
Ninguém jamais fez exatamente as mesmas coisas que eu fiz, ninguém jamais pensou ou sonhou o que sonhei. Nem mesmo estou certo de poder encontrar as palavras para compartilhar essas coisas com outra pessoa; não estou certo de como vão soar para ela.
A pessoa com uma boa auto-imagem, que se aceita verdadeiramente, poderá resolver melhor esse dilema. É pouco provável, no entanto, que alguém que nunca tenha compartilhado seu mundo possa construir a base de uma boa auto-imagem.
A maioria de nós viveu coisas, experimentou sensações e sentimentos que jamais se atreveria a contar para ninguém. A outra pessoa pode pensar que estou errado, ou que sou mau, ridículo ou presunçoso. Toda a minha vida pode parecer um grande engodo.
Milhares de medos nos prendem no confinamento solitário da alienação. Geralmente, antecipamos a dor profunda de vermos nosso segredo recebido com apatia, incompreensão, espanto, raiva ou zombaria. Meu confidente pode ficar com raiva ou revelar meu segredo a pessoas a quem eu não pretendia revela-lo.
Pode ser que, em algum momento da minha vida, eu tenha exposto uma parte minha diante dos olhos de outra pessoa. Pode ser que ela não tenha entendido e me refugiei cheio de mágoa numa dolorosa solidão.
Ainda assim, em outros momentos alguém pode ter escutado meu segredo e aceito minha confidência gentilmente. Posso até me lembrar do que a pessoa disse para me encorajar e a compaixão em sua voz, o olhar de compreensão em seus olhos. Posso me lembrar da expressão daquele olhar; de como sua mão tocou a minha, do leve toque a me dizer que eu tinha sido compreendido.
Foi uma experiência significativa e libertadora e, quando terminou, senti-me como se estivesse mais vivo. Uma necessidade imensa foi atendida dentro de mim - ser realmente escutado, levado a sério e compreendido.
É apenas compartilhando seu mundo que a pessoa chega a se conhecer.
José Carlos Vilhena é Psicólogo Clinico em Campinas.